Atualidades em zoologia

Beija-flores, esses ilustres (agora nem tanto) desconhecidos

Ver Currículo - Fernando C. Straube • 12 de June de 2017


No Brasil, as pessoas conhecem muitas espécies que compõem a nossa avifauna, diga-se de passagem uma das mais ricas em todo o mundo. Em diversos casos mais populares, elas sabem mesmo distingui-las. Afinal, todas têm um adjetivo que as qualifica e que permite saber de qual espécie se está falando: arara-vermelha, canindé ou azul; arara-de-lear, ararinha-azul; tucano-de-bico-verde, de bico-preto, tucanuçu; sabiá-laranjeira, coleira, poca, preta; coleirinho, caboclinho, curió e bicudo...

Mas há um grupo que, mesmo bem conhecido e celebrado por todos, quase não merece distinções. Talvez por exagerarem nas cores e brilho, talvez por se destacarem nas características de pequenez ou comportamento. De fato, os cuitelinhos, guainumbis, colibris e – como mais frequentemente chamados – beija-flores, são surpreendentemente pouco distinguidos pelo público leigo. Parece que, ao ver aquela minúscula criatura em voo adejando flores, basta reconhecê-la como beija-flor, como se resumíssemos todas as suas virtudes em um conjunto mágico e de riqueza quase indistinguível!

Há alguns meses demos um passo importante para mudar isso. Debruçando-se nas milhares de fotos disponíveis dessas aves, o habilitado fotógrafo Luiz Carlos da Costa Ribenboim resolveu reunir imagens e informações sobre esse grupo e, assim, uniu-se ao conhecido colega Edson Endrigo, autor das mais lindas pérolas editoriais sobre a avifauna brasileira e proprietário da “Aves & Fotos Editora”. Mas os dois amigos não dispunham de todo o material necessário. Algumas espécies são muito raras ou confinadas a recônditos onde poucos estiveram. Resolveram, então, criar uma espécie de mutirão para completar cada lacuna, em um trabalho de enorme paciência e dedicação que envolveu outros 42 fotógrafos do Brasil e exterior. Para os textos, foi escalado o biólogo Vitor de Queiroz Piacentini, coordenador do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos e uma das mais reconhecidas autoridades em Ornitologia brasileira, cujo currículo inclui inúmeras produções sobre a família dos Trochilidae, ou melhor, a família dos beija-flores.

Estava consolidada a iniciativa que resultou em uma obra quase catalográfica com fotos, textos e mapas de distribuição de todas as 84 espécies que ocorrem no território brasileiro. Talvez a palavra “fotos” não seja adequada – convenhamos. O que vejo aqui são verdadeiras obras de arte que não servem apenas para ilustrar uma espécie ou outra mas, além disso, as condições especiais da vida desses pequenos animais. Muitas delas aparecem em plena atividade, sendo possível apreciar o momento congelado de seus impressionantes modos de vida e – mais importante – a sua relação com as plantas que visitam. A impressão que se tem é dinâmica. A impressão que temos é que temos à frente um filme pausado, em que podemos imaginar o que estaria acontecendo no imediato momento após cada um daqueles instantâneos fotográficos.

Lançado em maio deste ano, durante o Avistar (Encontro Brasileiro de Observação de de Aves), o livro, denominado “Beija-flores do Brasil” é um primor. Na capa dura, de 31x24 cm, aparece a espetacular foto do Augastes lumachella, verdadeiro símbolo dos campos rupestres do interior da Bahia. No corpo de 200 páginas, bilíngue e em fino papel couché de 170 mg/m2, cada espécie tem uma ou duas páginas à sua disposição. Eis aqui um erro patente: por que tamanha economia se gostaríamos de ver centenas ou milhares de imagens? Respeitamos os autores pela economia editorial e, claro, para não privilegiar uma espécie mais do que as outras. E que nos perdoem pelo exagero, compreensível por nunca nos sentirmos satisfeitos quando se trata de fotos e informações produzidas por uma equipe deste quilate!

Há quem pense que foi uma tarefa fácil, uma vez que os beijas-flores são fotogênicos por natureza. Engana-se redondamente. Pequeninos, rápidos e muitas vezes assustadiços, são quase como insetos que nunca param em sua lida diária de visitar flores. Além disso, nem sempre a luz colabora. Dotados de uma característica particular de coloração, dispõem daquilo que chamamos de iridescência, fenômeno que – dependendo da incidência dos raios solares – se manifesta sob variados brilhos e cores. E nem sempre uma cor aparece ao mesmo tempo da outra! Cabe à notável estirpe de fotógrafos os louros sobre tudo isso e que, lembremos, representa horas e horas de espera, muitas vezes sob difíceis condições. Os textos, além disso, não são meras compilações resumidas do que já foi escrito, e sim resultado de anos de pesquisa de campo no Brasil e em museus e bibliotecas de vários países do mundo. Temos à frente uma produção selecionada, com o que há de melhor – e mais bonito – já feito no país sobre essas aves.

O leitor irá, com toda a certeza, ficar extasiado ao abrir, folhear e absorver a obra. E feliz em especial por poder confiar nos textos, de linguagem simples e agradável, e nos mapas de distribuição, produzidos com grande esmero, reunindo informações disponíveis na ampla literatura já publicada até então. Chama a atenção uma inovação: as espécies não são apresentadas em sequência filogenética, tal como definida pelos cientistas. Aparecem, independentemente do parentesco, dispersas ao longo do livro, evitando a concentração de formas e cores semelhantes em bloco. Fugir dessa tácita imposição do trivial foi uma grande sacada, porque permite àqueles que a irão contemplar, uma completa miscelânea de tons e matizes, dispersas por toda a obra. É como se espalhássemos muitas variedades de joias sobre uma mesa e, assim, pudéssemos apreciá-las uma a uma, esquecendo-se por um instante do parentesco que há entre elas...

Serviço:

Para comprar o livro, que custa R$ 100,00, visite: http://avesefotoseditora.com.br/produto/beija-flores-do-brasil/

 

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