Ver CurrÃculo - Sociedade Brasileira de Zoologia • 28 de April de 2022
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Recentemente alguns colegas entraram em contato com a Sociedade Brasileira de Zoologia arguindo a respeito dos valores relativos à inscrição no 34º Congresso Brasileiro de Zoologia, que será realizado em agosto de 2022 em Curitiba, Paraná. Dentro do espírito de transparência que sempre norteou esta Sociedade, a Diretoria da SBZ e a Comissão Organizadora do 34º CBZ consideram importante dar ciência a toda comunidade zoológica brasileira sobre alguns fatos relacionados aos nossos Congressos.
É importante destacar que os valores praticados não são aleatórios e são inferiores ou similares a outros congressos de grande porte, como no caso de congressos de sociedades irmãs e que fazem parte do Fórum de Sociedades em Zoologia.
Os valores das inscrições no 34º CBZ foram amplamente divulgados em 12/2021, e este período de antecedência foi pensado porque a organização se preocupou em viabilizar, com tempo suficiente, o planejamento financeiro dos zoólogos com interesse em investir em sua participação e formação profissional. Lembramos que sempre houve a possibilidade do parcelamento dos valores em até 12 vezes, o que também mostra o nosso comprometimento em facilitar ao máximo a participação de todos. Somos solidários e entendemos a atual situação econômica do país, dos valores defasados das bolsas e das dificuldades financeiras pelas quais passamos. Ainda, consideramos importante pontuar aos colegas que, da mesma forma, os envolvidos na realização são igualmente pesquisadores, professores e estudantes de instituições de ensino e pesquisa e, portanto, não estão alheios a realidade do país. Finalmente, embora desnecessário lembrar, a SBZ e o CBZ não visam lucro.
Acreditamos que seja importante fazer uma retrospectiva para que se entenda a logística atual envolvida nas recentes edições do Congresso Brasileiro de Zoologia.
Em 2006, antes do início oficial do 26º Congresso Brasileiro de Zoologia, em Londrina, PR, lamentavelmente houve um gravíssimo acidente nas dependências da Universidade Estadual de Londrina, que envolveu alguns dos nossos colegas inscritos no congresso. A partir deste episódio desolador, uma reflexão foi provocada sobre as condições em que os congressos deveriam ser organizados. Até aquele momento, os congressos eram organizados por professores, alunos e pesquisadores das universidades que, heroicamente, desempenhavam múltiplas tarefas, incluindo todo o trabalho de secretaria, inscrição, programação científica, convite aos palestrantes, compra de passagens e reservas de hotel, recepção e avaliação de resumos dos trabalhos, confecção e distribuição de material, tesouraria, relatórios, prestação de contas e assim por diante, e em eventos que chegavam a registrar 3.500 participantes (público inscrito no 26º CBZ). Aqueles com experiência na organização de eventos desse porte certamente se solidarizarão com as dificuldades inerentes e do volume de esforço que era exigido da equipe envolvida considerando, inclusive, que o trabalho se estendia por meses antes e após o Congresso. E tudo isso, é claro, sem qualquer experiência em organização de eventos dessa magnitude, e de maneira voluntária. Esses colegas contavam apenas e tão somente com o apoio da SBZ e da sua instituição, normalmente uma instituição pública de ensino e pesquisa, já com as habituais sobrecargas e precariedades.
Após o 26º CBZ, a diretoria da Sociedade Brasileira de Zoologia, que é a responsável legal e financeira pelo apoio aos Congressos, decidiu que estes não seriam mais tratados de forma amadora, dependendo da criatividade em improvisação de alguns abnegados, e que a partir de 2008 seriam organizados de um modo mais profissional. Consideramos que já não era sem tempo que os participantes do maior congresso de Zoologia da América Latina tivessem um evento da mais alta qualidade e em local adequado, tal qual os mais prestigiados congressos no exterior. A mudança do CBZ, sem dúvida alguma, deveria acompanhar a rápida e consistente evolução da Zoologia no Brasil, e assim tem sido. Dessa maneira, em Curitiba, em 2008, aconteceu o primeiro congresso em um local apropriado e destinado a realização de grandes eventos, que contou com 4.000 participantes inscritos, sendo extremamente bem-avaliado por todos os congressistas.
Ao mesmo tempo que a estrutura física foi modificada, houve também uma mudança conceitual dos congressos. A programação do CBZ deixou de ser imposta pelo comitê científico e tornou-se mais interativa e colaborativa, com os simpósios tomando grande parte da programação. A ideia é que os próprios congressistas decidam e organizem a programação do evento, incluindo temas atuais e de seu interesse para o debate, o que se mostrou extremamente atrativo e proveitoso. Este modelo de sucesso, inclusive, foi replicado em congressos de outras áreas.
Tais mudanças, é claro, trouxeram consigo um custo. Anteriormente não havia despesa com a locação do espaço onde o congresso era realizado, e esta cessão era geralmente a contrapartida da instituição-sede. As atividades do congresso eram, muitas vezes, realizadas em salas de aula, o que limitava o CBZ aos períodos de férias e havia, inclusive, limitações em função desta disponibilidade. Atualmente os espaços são selecionados e adequados para proporcionar conforto e segurança aos participantes, dentro da filosofia de que aqueles que participam do CBZ merecem e terão a melhor estrutura possível. Todos os inscritos no CBZ possuem um seguro de vida e de acidentes pessoais, além de uma equipe de bombeiros e de segurança física e patrimonial que ficam de plantão durante todo o evento, infraestrutura impensável quando o congresso ocorria de modo improvisado nos espaços das universidades.
Após essa explanação inicial, gostaríamos de falar aos zoólogos brasileiros sobre o nosso próximo congresso.
Em 2020, quando se encerrou o 33º CBZ, a diretoria da SBZ iniciou conversas com diversos colegas que se interessaram em levar o CBZ para a sua cidade. Porém, exatamente uma semana depois do término do 33º CBZ, a pandemia foi deflagrada no Brasil e as expectativas foram frustradas, o que nos levou a mudar de direção. Desta forma, a diretoria da SBZ optou por realizar o congresso em Curitiba, onde a maioria dos diretores se encontram, pois houve o entendimento de que não seria possível nem justo repassar a responsabilidade do próximo congresso a outros pesquisadores e outras instituições devido à grande insegurança sobre o futuro da pandemia, o que se provou uma decisão acertada. O professor Walter A. P. Boeger, da Universidade Federal do Paraná, aceitou o convite para ser o responsável pela parte científica e, pela primeira vez, a presidência da SBZ assumiu também a presidência do Congresso.
Em momentos distintos foi discutido se o congresso seria presencial ou de forma remota, mas nunca o seu cancelamento foi cogitado, com a certeza de que não poderia deixar de ocorrer. Assim, assumimos o risco de organizar o congresso de forma presencial, alterando a data para o segundo semestre, apostando também na oportunidade de todos nós nos reencontrarmos pessoalmente depois de tantas provações e desafios nos últimos dois anos. A possibilidade de nos reunirmos presencialmente e de novamente termos o espírito da Zoologia entre nós foi talvez uma das maiores forças motrizes para mantermos o nosso Congresso de forma presencial.
Sempre pensando na formação e atualização dos zoólogos, organizamos o ESQUENTA ZOOLOGIA, um evento virtual na mesma data em que o congresso havia sido previsto originalmente, para que os zoólogos participantes começassem a entrar no “clima” e não perdessem a data que há muitos anos pertence ao CBZ. O ESQUENTA foi um enorme sucesso. A qualidade das palestras foi indiscutível. No ESQUENTA, e sempre com o espírito de quem é uma das responsáveis pela atualização profissional de grande parte dos zoólogos do Brasil, foi realizada uma promoção, já que este evento não poderia ser realizado gratuitamente, devido aos custos do sistema de inscrição e transmissão: os inscritos no ESQUENTA terão parte do valor empregado abatido na inscrição do CBZ.
Além do ESQUENTA ZOOLOGIA, há outras novidades sendo programadas para o congresso e que demonstram o empenho da Comissão Organizadora em motivar os inscritos e apresentar novidades na área: o ZOOTHON, o VIRALIZOO e a DOSE DE ZOOLOGIA (https://www.cbzoo.com.br/). São novas iniciativas que serão um sucesso, como foi o ZOO na RUA, em Águas de Lindóia, no 33º CBZ, que trouxe mais de 4.000 mil pessoas da comunidade do Circuito das Águas no Estado de São Paulo para dentro do Congresso e que entraram em contato com os zoólogos e seus trabalhos de pesquisa, muitas delas pela primeira vez.
Desde o primeiro momento em que a comissão organizadora se reuniu e decidiu realizar o CBZ de forma presencial, atendendo também a pedidos de colegas de todo o Brasil e de outros países da América do Sul, ansiosos por rever seus colegas, sabíamos que era fundamental levar em conta os valores a serem investidos pelos participantes. Como sempre, propostas para patrocínios estão sendo enviadas a empresas, assim como para as agências de fomento de pesquisa brasileiras. Como era de se esperar, em um período de crise em que a economia de muitos países sofre devido a alta da inflação, as respostas não têm sido tão positivas quanto nos anos passados. CNPq e CAPES, instituições parceiras, que sempre foram as principais apoiadoras dos congressos, não possuem recursos suficientes para suas demandas e suas contribuições, embora extremamente importantes, têm sido muito abaixo do que o tradicionalmente aportado ao CBZ.
Consideramos que a contribuição dos palestrantes é necessária e bem-vinda para apoiar o CBZ, mas, neste momento, eventuais isenções de pagamento da inscrição inviabilizariam a realização do evento. A Comissão Científica elaborou editais com regras claras e, em várias oportunidades, repassou aos palestrantes, com o aval da tesouraria, que se houvesse condições – ou seja, se a Comissão conseguisse patrocínio – alguns dos custos poderiam ser reembolsados. Isso, no entanto, só será possível na época do evento, depois de uma avaliação criteriosa da planilha financeira do congresso. A equação é bastante clara – havendo um grande número de inscritos e aporte financeiro de patrocinadores poderemos ter mais liberdade financeira para reembolsar os palestrantes e participantes de simpósios, e até mesmo de apoiar a vinda de estudantes que não possuem condições financeiras. Esse é o nosso desejo, e temos trabalhado para isso, mas não podemos nos comprometer antecipadamente.
Precisamos novamente enfatizar que a SBZ e o CBZ não são entidades com fins lucrativos. Toda a Diretoria da SBZ e os membros do CBZ trabalham de forma voluntária para tornar real o maior e mais tradicional Congresso de Zoologia da América Latina. Todos os recursos aportados no CBZ são revertidos no próprio Congresso e na semente para o próximo evento.
Cabe destacar que uma sociedade forte reflete a força de seus associados. Caso a SBZ tivesse um número expressivo de sócios o valor do investimento individual para participar dos congressos seria certamente mais baixo, pois haveria condições de subsídio a muitos dos participantes. A conta é sempre negativa para a SBZ quando observamos o número de membros associados e os benefícios que a SBZ proporciona à comunidade, na forma de representação junto aos governos federal e estaduais na formulação de muitas políticas públicas. Ainda, para aqueles que desconhecem, a SBZ fornece um auxílio inicial a todos os congressos de 40 mil reais, como semente para que os primeiros gastos possam ser custeados.
Esse, com certeza, é o momento de refletirmos sobre as vantagens de estarmos mais unidos e assumirmos uma posição mais proativa em defesa de nossos objetivos. É necessário um investimento pessoal de recursos e de tempo, mas precisamos agir antes que a unidade se fragmente ao ponto de não termos mais voz junto aos órgãos tomadores de decisão, governos e instituições. Sociedades e congressos como o nosso devem ser direcionados para esse fim e dependem do reconhecimento e envolvimento de toda a comunidade.
O congresso nada mais é do que o reflexo da sociedade de zoólogos e de como a comunidade zoológica se vê e é vista pela sociedade. A participação ativa dos zoólogos nunca se fez tão necessária como agora.
Esperamos encontrar todos vocês muito em breve em Curitiba, para não apenas realizarmos um excelente CBZ, mas também para que esta seja uma oportunidade de reencontro e de celebração, depois de um período tão difícil para todos. E que consigamos, juntos, encontrar caminhos e enfrentar os imensos desafios pelos quais a ciência tem passado.
Curitiba, 27 de abril de 2022.
Diretoria da SBZ
Comissão Organizadora do 34º CBZ
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