Ver CurrÃculo - Ana Dal Molin • 05 de June de 2017
"Se você decidir seguir carreira como cientista, três previsões para seu futuro são certas: um, você nunca vai ser rico; dois, você vai viajar muito; e três, você vai se divertir muito". Dentre estas três previsões, é claro que a primeira e a terceira são relativas (o conceito de "riqueza" e "diversão" entre cientistas tende a não coincidir sempre com o consenso geral), mas a segunda é verdade. Uma hora, você começa a viajar, seja em trabalho de campo, seja para bancas e congressos, e invariavelmente você começa a ter suas experiências com o pessoal da segurança dos aeroportos e com as alfândegas. Você pode deixar essas experiências arruinarem seu gosto por viajar... ou tentar rir delas.
Eu imagino que esse pessoal da segurança dos aeroportos deve ver muita coisa bizarra. Quer dizer, objetos apreendidos já foram até tema de exposição artística (aqui). Só que às vezes o que a gente carrega pode ser completamente inofensivo, mas difícil de explicar. Tanto que entre as coisas confiscadas, existem algumas que eles pensam que são proibidas (veja esta galeria de fotos-ache o biólogo) mas potencialmente eram perfeitamente legais.
Aí quando um nerd tenta passar com uma mala assim no raio X:
Representação artística da minha mala no raio X do aeroporto, em uma viagem recente
Ponha-se no lugar da coitada da agente. Além disso, suponha que você é de um país bem mais paranóico, onde qualquer esquisito seja visto como potencial terrorista, parte de uma agência não exatamente preocupada com eficiência. O que você faz?
Vamos esclarecer:
Desenho legendado (não que o/a leitor/a precise, já que o desenho é tão claro). As lâminas estão de lado.
E o meu era um caso light. Primeiro porque tenho a sorte (?) de trabalhar com bichos mortos, sem pêlos ou penas e nem de longe parecem algo que um contrabandista de animais transportaria (especialmente de longe, considerando que têm tipo 1mm). E segundo, porque eu já estou tão cansada de responder sempre as mesmas perguntas que já vou preparada. Peço uma carta de qualquer que tenha sido o laboratório ou coleção que visitei explicando que fui fazer uma visita a trabalho (tipo "esta louca é inofensiva e está trabalhando num projeto comigo, eu sou professor X da instituição Tal, deixa ela passar"), que o material é estéril, que os insetos estão mortos (detalhe muito importante se você não quer que seu material acabe na quarentena ou incinerado), e cedidos de acordo com a legislação etc. etc. nos termos de quaisquer termos de transferência de material que você tenha tido que assinar para carregar o invoice do museu. Eu também tenho uma cópia do CV e da tese no celular. Sério. Assim, geralmente o diálogo se resume a "o que é isto?" "é X, quer abrir? eu tenho esta carta e tal", e aí normalmente a pessoa se desinteressa porque tem uma fila crescendo e eles têm mais o que fazer.
Mas não é sempre assim: em aeroportos pequenos você pode ser a diversão do dia. Eu sei, porque nos anos que morei no exterior, minha bagagem despachada foi aberta pela TSA praticamente todas as vezes, com exceção de uma única vez, em quase 10 anos (as estatísticas falam que 5% das malas despachadas são abertas. Tá bom...). E nem dá para culpar o equipamento, pois nem carreguei isto comigo todas as vezes (um erro, na verdade, pois nunca se sabe) (supostamente parece "parafernália de drogas"):
Bagagem despachada!
De qualquer forma, se nem um Nobel escapa (ótima história, aqui, por sinal) ("e quem te deu isto?" "o Rei da Suécia")... Ed Yong recentemente abriu a Caixa de Pandora ao perguntar a cientistas no twitter se eles tinham histórias para compartilhar sobre tentativas de explicar seu material ao pessoal da segurança do aeroporto.
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SCIENTISTS: do you have a funny story about explaining to the TSA why there's something weird in your luggage? Email me: ed@theatlantic.com
— Ed Yong (@edyong209) May 22, 2017
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O resultado foi uma coleção de histórias (confira aqui) envolvendo coisas como modelos tridimensionais de genitálias de camundongo e de golfinho, ossos (inclusive os ossos de Lucy), sapos vivos ("eu não podia deixar os coitados serem expostos ao raio X"-Ondine Cleaver, Univ. of Texas), rastreadores ("pareciam demais com cintas cheias de explosivos"- Luca Borger, Swansea Univ.), entre outros. Mas a série no twitter ainda tem uma quantidade de pérolas que ficaram de fora ("a agente achou que uma réplica de crânio de dentes de sabre era um frango congelado"- Dean Lomax, Univ. Manchester).
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(1/n)
— Gal Sarid (@sir_galahead) May 22, 2017
Carry tube w multiple group posters.
Agent can't see inside.
I try to explain, but he doesn't want to listen. He wants to see!​
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Algumas semanas antes, Emily Willingham publicou [arquivo] outra "coletânea" de objetos "estranhos" (urina de gorila?) e convenientemente começa o texto com um paralelo com a cena do aeroporto no filme dos 12 Macacos. Andrew Thaler também já havia compartilhado algumas das suas experiências carregando amostras (junto com alguns sábios conselhos para quem passa pelos EUA).
"Where's your permit, sir?" "I don't need a permit for apocalypse viruses." (gif: Os 12 Macacos, 1995)
De qualquer maneira, Thaler lembra talvez o conselho mais importante de todos para quem se encontra nesta situação: "nas palavras imortais de Douglas Addams: 'Não entre em pânico'". E carregue cópias de todos os MTAs e licenças de coleta na mochila!
E você? Compartilhe suas histórias e conselhos nos comentários!
Bônus: Instagram da TSA.
Créditos: Foto capa: Infraero/Acervo (Flickr)
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